terça-feira, 13 de julho de 2010

O último gângster


Morre na cadeia John Gotti, o mais exibicionista e audacioso dos chefes mafiosos dos Estados Unidos

Preocupado com os insistentes olhares dos transeuntes, o mafioso Sammy Gravano perguntou um dia a seu chefe se ele não se incomodava com a curiosidade que despertava ao desfilar elegantemente vestido pelas ruas de Nova York. “Não, não. Esse é o meu público, Sammy. Eles me amam”, respondeu John Gotti, o último grande capo da família Gambino. O Chefão Janota, como era chamado pelos tablóides, chegou a ser um dos mais poderosos e conhecidos criminosos americanos. Na segunda-feira, Gotti morreu de câncer no hospital da penitenciária federal de Springfield, no Missouri. Traído por Gravano, o vaidoso Gotti passou os últimos dez anos de sua vida em uma cela solitária.

“Ele foi o primeiro chefão a posar para a mídia. Nunca tentou esconder o fato de que era um dos grandes”, disse J. Bruce Mouw, ex-agente do FBI que liderou a equipe responsável pela condenação de Gotti, em 1992. Era a quarta vez que o extravagante mafioso, sempre vestido com ternos Brioni de US$ 2 mil e gravatas de seda pintadas à mão, era julgado. Nas outras três oportunidades, fora inocentado por júris subornados. A facilidade com que se livrava da Justiça lhe valeu outro apelido, Don Teflon, porque nenhuma acusação “grudava” nele. Gotti virou o maior símbolo da resistência à lei desde Al Capone, na década de 20. A condenação por extorsão, homicídio e tráfico de drogas pôs fim a uma violenta carreira iniciada na juventude.

John Gotti nasceu no Bronx, em Nova York, em 1940. Aos 18 anos já estava fichado na polícia como um “associado” da Máfia. Nos anos seguintes, foi preso várias vezes por crimes menores, quase sempre em companhia de Angelo Ruggiero, sobrinho de Aniello Dellacroce, braço direito de Carlo Gambino, líder de uma das cinco famílias que dominam a Máfia de Nova York. Gotti caiu nas graças de Dellacroce e subiu.

Dizem que sou durão demais para o trabalho. Você pode imaginar no que a Cosa Nostra está se transformando?

JOHN GOTTI, ex-chefe da Máfia, sobre críticas feitas a ele por outros mafiosos

Quando Gambino morreu, Dellacroce foi preterido na sucessão por Paul Castellano. Gotti, já um chefe importante, começou a ser vigiado constantemente pelo FBI. Em 1980, um dos cinco filhos de Gotti, Frank, de 12 anos, foi atropelado e morto enquanto andava de bicicleta por John Favara, um vizinho da família. Foi um acidente, mas Gotti prometeu à mulher, Victoria, que haveria vingança. Quatro meses depois, Favara desapareceu para nunca mais ser visto. Mais uma vez, não havia provas contra Don Teflon.

Em 1985 surgiu a grande oportunidade de Gotti. Acusado de tráfico de heroína pelo FBI, caiu em desgraça aos olhos de Castellano. O novo capo proibia drogas porque atraíam muito a atenção das autoridades. Antes que o fritassem, Gotti decidiu agir. Castellano foi morto a tiros ao sair de uma churrascaria de Manhattan. Gotti e Graviano assistiram ao crime de um carro estacionado nas proximidades. O Janota assumiu o comando das 23 gangues que compunham a família Gambino. Seus cerca de 2.500 comandados lhe proporcionavam uma renda de US$ 12 milhões por ano.

Mas Gotti prezava demais o próprio poder. Exigia que seus asseclas se reunissem com ele em seu escritório. O vaivém de figurões da Máfia permitiu que o FBI coletasse provas para pôr quase todos na cadeia. Ao ver que a família Gambino ruía, Graviano fez em 1992 um acordo com a Justiça. Contou tudo o que sabia em troca de uma pena de apenas cinco anos por sua participação em 19 assassinatos a mando de Gotti. Don Teflon foi condenado a ficar o resto da vida atrás das grades.

Fonte:

Revista Época.