O maior grupo mafioso italiano de tráfico de cocaína, o 'Ndrangheta, usa a costa portuguesa como porta central para a Europa.
Portugal tem um papel "significativo" no tráfico de droga protagonizado pela 'Ndrangheta, o principal grupo mafioso italiano envolvido nas redes de cocaína. A conclusão é da Europol, a agência policial europeia, registada no seu mais recente relatório, 2009, sobre as ameaças do crime organizado na Europa.
De acordo com o documento, embora a maioria da cocaína negociada pela 'Ndrangheta chegue a Itália por via marítima, directamente da "fonte", a Colômbia, "a droga é também, em quantidade significativa, distribuída através de Portugal, em alguma quantidade via França, mas especialmente através da Alemanha, onde o crime organizado italiano tem importantes bases de apoio".
Segundo a agência europeia de investigação, a 'Ndrangheta, que tem os seus contactos próprios com os cartéis colombianos, estabeleceu em Espanha um dos seus quartéis-generais logísticos. Os grupos traficantes italianos e franceses trabalham em conjunto na importação da droga para a Europa e, refere a análise oficial, "os membros italianos apoiam-se nos grupos de crime organizado envolvidos no tráfico de cocaína em Portugal".
A acção da mafia italiana no nosso país é também confirmada num livro do antigo presidente da Comissão Anti-Mafia do parlamento italiano, Francesco Forgione, informação ontem reproduzida pelo jornal Expresso. Forgione indica mesmo Faro e Setúbal - ambas com portos e zonas costeiras apropriadas para desembarques - como locais de bases desta mafia calabresa. A Camorra, de Nápoles, tem também, segundo Francesco Forgione, um clã em Cascais e outro no Porto.
De acordo com fontes policiais consultadas pelo DN, a mafia italiana, tal como outros grupos de crime organizado, como as mafias de leste (ver texto em baixo), enquadra-se na chamada criminalidade transnacional e tem uma composição transfronteriça. No caso da 'Ndrangheta em Portugal, por exemplo, pode contar, além de italianos, com operacionais portugueses e brasileiros. Segundo uma fonte judicial citada pelo Expresso, esta organização mafiosa "está activa em Faro, na segurança ilegal a bares e discotecas e no tráfico de armas e droga", com uma acção, no geral, discreta, mas eficaz. A "discrição" da mafia no nosso país é apontada mesmo pela Europol como modus operandi característico, que esta agência descreve como o de "iludir a atenção das autoridades" através de outras actividades com moldura penal menos grave. As autoridades estão atentas ao fenómeno e ainda em 2008 a PJ deteve 21 pessoas, incluindo três empresários de Alcobaça e um militar da Brigada Fiscal de GNR, suspeitos de tráfico de droga em ligação à Camorra.